IA: A nova pandemia que ninguém está vendo chegar

O problema já existia antes da IA

Antes mesmo da IA explodir como explodiu, o Brasil já tinha um problemão: falta desenvolvedor pra caramba.

Os números são assustadores. Um estudo do Google mostrou que até 2025, vamos ter 530 mil vagas de TI sem ninguém para ocupar [1]. Pensa só: meio milhão de empregos vagos!

Por que isso acontece? Simples: o Brasil forma apenas 53 mil profissionais de tecnologia por ano, mas o mercado precisa de 159 mil [2]. É como tentar encher uma piscina com uma mangueirinha - nunca vai dar conta.

E não é só questão de quantidade. A qualidade também está complicada. Como explica Pedro Moura, um desenvolvedor de São José dos Campos, na revista Exame, temos cinco problemas principais [2]:

• Faculdades desatualizadas - o que se ensina na universidade não tem nada a ver com o que as empresas precisam.
• Teoria demais, prática de menos - galera sai da faculdade sem saber fazer o que o mercado pede.
• Salários fracos - por que ganhar em real quando dá para ganhar em dólar trabalhando remoto?
• Profissionais acomodados - muita gente para de estudar depois que consegue o primeiro emprego.
• Empresas brasileiras limitadas - aqui as maiores empresas são de commodities, não de tecnologia.

Então já tínhamos esse buraco gigante no mercado. Aí chegou a IA.

A IA chegou e bagunçou tudo

Agora vem a parte interessante (e preocupante). A IA não só não resolveu o problema da falta de desenvolvedores, ela piorou tudo.

Uma pesquisa do Google mostrou que 90% dos desenvolvedores já usam IA no trabalho [3]. Em um ano, saltou de 14% para 90%! Nunca se viu uma tecnologia ser adotada tão rápido.

Mas aqui está o problema: enquanto a IA ajuda quem já sabe programar a ser mais produtivo, ela está fechando a porta para quem está começando. As vagas para programadores iniciantes caíram 71% entre 2022 e 2025 [3].

Sabe por quê? Porque a IA consegue fazer muitas das tarefas que normalmente dariam para estagiários e programadores júnior. Resultado: as empresas não contratam mais iniciantes, mas ainda precisam de profissionais experientes para fazer o trabalho mais complexo.

É como se a IA tivesse cortado a escada que os novos programadores usavam para subir na carreira.

Os números que assustam

Vamos colocar os dados na mesa para você ver como a situação está feia:

O mais irônico? Mesmo com 90% dos desenvolvedores usando IA, apenas 20% confiam totalmente no código que ela gera [3]. Ou seja, a ferramenta que deveria nos ajudar ainda precisa de supervisão humana constante.

Por que isso é um problema gigante?

Imagina o seguinte cenário: você tem um monte de carros super modernos, mas não tem mecânicos que saibam consertá-los. É mais ou menos isso que está acontecendo com a tecnologia.

1. Inovação travada 
   Empresas cheias de ideias incríveis para usar IA, mas sem gente para colocar essas ideias em prática. É como ter a receita do bolo, mas não ter quem saiba cozinhar.
2. Mercado dividido em dois 
   De um lado, uma pequena elite de desenvolvedores que manjam de IA ganhando fortunas. Do outro, uma galera com conhecimento "antigo" lutando para não ficar para trás. O Fórum Econômico Mundial já avisou: 40% das habilidades de hoje vão ficar obsoletas até 2030 [4].
3. Sistemas frágeis 
   Com a pressão para implementar IA rapidamente, muita coisa está sendo feita de qualquer maneira. Lembra que só 20% dos desenvolvedores confiam totalmente no código da IA? Pois é. Estamos construindo nossa infraestrutura digital sobre uma base que nem nós mesmos entendemos completamente.
4. Brasil perdendo o bonde 
   Enquanto outros países investem pesado em formar gente para a era da IA, o Brasil continua com o mesmo sistema educacional defasado. O resultado? Perdemos oportunidades de crescimento e continuamos exportando nossos melhores talentos.

Como sair dessa?

A boa notícia é que dá para resolver. Mas vai precisar de esforço coordenado, como quando todo mundo se juntou para combater a COVID.

Mexer na educação de verdade: chega de tratar IA como "matéria opcional". Tem que ser parte central dos cursos de programação, desde o básico até o avançado. E não adianta só adicionar uma disciplina, tem que repensar todo o currículo.

Empresas e universidades trabalhando juntas: as empresas não podem mais ficar esperando que as faculdades entreguem profissionais prontos. Precisam investir em programas de estágio de verdade, mentoria e treinamento interno. É caro? É. Mas sai mais barato que ficar sem funcionários qualificados.

Estudar virou coisa de toda vida: esquece essa história de "me formei, agora posso relaxar". Na área de tecnologia, quem para de estudar fica para trás em questão de meses. Governos e empresas precisam criar sistemas que incentivem e facilitem o aprendizado contínuo.

Valorizar o que só humanos sabem fazer: conforme a IA vai assumindo as tarefas mais mecânicas, o valor dos desenvolvedores vai estar em coisas como criatividade, pensamento crítico, liderança e ética. O programador do futuro não vai ser quem escreve código mais rápido, mas quem faz as perguntas certas para a IA.